UFG sem homofobia

UFG sem homofobia

Updated at 03/19/13 20:18 .

Artigo "Por trás dos bastidores", de Chyntia Barcellos. Presidente da Comissão de Direito Homoafetivo e conselheira seccional da OAB-GO.

Por trás dos bastidores

Em meio a tantos acontecimentos que movimentaram os noticiários nos últimos dias, como o carnaval de certa forma adormecido pela renúncia do Papa Bento XVI e a polêmica entrevista do pastor Silas Malafaia à apresentadora Marília Gabriela, também aconteceu por aqui um caso de agressão por homofobia na Casa de Estudantes Universitários (CEU) da Universidade Federal de Goiás (UFG) que chocou os estudantes e estarreceu quem viu e ouviu dizer.

Dessa vez, mais do que um sentimento de revolta por tudo o que vem acontecendo no país acerca da homofobia e que venho relatando cotidianamente, os olhos são de quem está acompanhando de perto. Não se trata do mais grave dos casos, mas o requinte de crueldade e maldade não deixam a desejar.

Os dois rapazes que supostamente agrediram o estudante de Contabilidade G.G.C., de 21 anos, certamente não pensaram antes de agir e hoje respondem por injúria (por terem xingado de “mulherzinha” e “bichinha”) e lesão corporal (pelos murros e pontapés).

As sábias palavras da mãe do estudante agredido reforçam o sentimento de revolta: “Talvez esses jovens estivessem acostumados a fazer isso (bater no colega de classe) por toda a infância e não foram repreendidos”. Trata-se o processo criminal de apenas um paliativo ao ofendido se comparado aos sentimentos e transtornos suportados por G. e sua família.

O estudante foi privado de dormir na própria cama, frequentar às aulas do curso que adora, perder dias de emprego para procurar advogados e ir a delegacias em busca de direitos. Enfim, teve sua rotina transformada do dia para noite em um pesadelo de medo e impunidade.

Quando perguntei a G. o que mais tinha lhe marcado em tudo o que estava acontecendo não sabia que ia ouvir um dos relatos mais bonitos da minha vida: “O que mais me marcou foi que eles feriram o que tenho de mais precioso na minha vida, que é minha sexualidade, porque amo ser quem sou. Sou homossexual e tenho muito orgulho disso. Tive muita sorte em ter os pais que tenho, mas agora isso que está acontecendo é muito ruim, não sai da minha cabeça.”

Desta forma, meu observatório pessoal revela como ainda estamos longe de dar segurança a uma minoria mitigada pela falta de uma lei, que culmina em falta de uma delegacia especializada para receber ocorrências envolvendo homofobia, falta de preparo na docência e suas instituições para encararem o preconceito de perto e como um fato recorrente e sério, falta de todos em geral para entender que uma pessoa homossexual é gente como toda gente e não algo, alguém ou uma alegoria passível de rótulos, suposições e desrespeitos.

Nota-se que esses rapazes, mesmos sendo de outro país, trazem consigo traços comuns aos agressores daqui: sentimento de superioridade, machismo e de que tudo isso pode dar em nada.

Enfim, a falta de uma lei que criminalize a homofobia nos traz a triste sensação de que enquanto isso não acontecer, a Justiça não será completa e o Direito um caminho sem direção.

 Nesse relato, deixo aqui o exemplo de G. e sua família pela busca de Justiça e de um mundo mais justo, sem medo, sem amarras, sem impunidade e cheio de amor.

*Chyntia Barcellos é presidente da Comissão de Direito Homoafetivo e conselheira seccional da OAB-GO - Email: chyntia@chyntiabarcellos.com.br

Source: Ser-Tão